domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pequenos atrasos, grandes sinais...

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

Lapsos de memória. Há muito me pergunto o porque dos pequenos esquecimentos diários. Estes esquecimentos causam, consequentemente, pequenos atrasos que de uma forma ou de outra mudam detalhes da nossas vidas.

Tenho uma explicação não-científica para os pequenos atrasos que ocorrem no meu dia-a-dia. Acredito que em todas as vezes que voltei para pegar as chaves, a carteira, o bilhete com o endereço, o exame médico ou documento na pasta, Deus criou naquele momento um propósito para meu atraso. São segundos e minutos que fazem a diferença em nossas vidas quando reparamos nestas situações.

Explico. Tenho fixo na mente que se me atrasei, algo maior disse que era para ser assim. O atraso por vezes chateia quem o vivência. Sabe quando você já está no meio do caminho e lembra que esqueçeu de algo que é indispensável. Tem gente que grita, chinga ou mesmo desiste de voltar, porque não quer atrasar-se, claro. É ai que entra minha crença espiritual(?) de que Deus pede que eu volte atrás, fazendo-me voltar.

Pode ser que, se eu seguir o caminho, ignorando o que esqueci, algo inesperado aconteça. E é estranho pensar assim, mas faz um pouco de sentido.

Certa vez, arrumei as malas para viajar, botei no carro e segui até a rodoviária. No caminho fiquei a perguntar-me se havia tomado a benção de minha mãe antes de sair. Quando parei no sinal, vi pelo retrovisor um carro em alta velocidade, que não percebeu o sinal fechado.

A batida amassou toda a traseira do meu carro. Não houve feridos, mas fui parar a uns 10 metros depois do sinal, estava, lógico, com o cinto de segurança. O rapaz do carro que causou o acidente, comprometeu-se de imediato com as depesas, disse estar com pressa para ir buscar sua avó no aeroporto, e havia tomado o carro emprestado. Chamamos a perícia.

Como eu tinha horário para estar na rodoviária, pedi que meu pai viesse até o local da batida. E quando ele chegou, pedi que cuidasse dos detalhes do acidente, para que eu prosseguisse o caminho, posto que já aproximavasse da minha hora.

Minha mãe veio junto com meu pai. E depois de um longo abraço, deu enfim a benção que eu precisava para vijar tranquilo. Seu eu tivesse voltado antes, esta estória teria sido diferente. Acredito!


Esta foi a ultima vez que não voltei para buscar algo que precisava!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem sabe, um dia!

"O maior desafio para qualquer pensador é enunciar o problema de tal modo que possa permitir uma solução." (Bertrand Russell)
Tudo começou no topo da escada.  A subida para a loja de conveniência não teria o mesmo motivo após a aquela visualização.
Ela estava sentada numa cadeira branca, por trás de um balcão, olhando fixamente para minha direção.   – Deus, como é linda! Sussurrei aos meus pensamentos. Desejei que naquele momento ela estivesse olhando para mim. E parecia que era, até então. Mas na verdade seu olhar estava longe. Como quando nos perdemos no tempo, divagando em pensamentos...
Continuei a caminhada, um tanto desnorteado, e vez por outra olhando por meio das prateleiras, seus movimentos, suas gesticulações exibidas aos clientes. Passava com freqüência a mão direita no cabelo, que insistia em cair em sua face. Um cabelo longo e preto, reluzente à luz fluorescente do ambiente. Parecia dizer-me “Vê como sou bela!”.
Nem sei mais por que fui parar ali. Perdi minha meta, tão repetida mentalmente até a subida naquela escada. Desconcentrei-me. E então, com o foco já disperso, pensei numa aproximação.
Não irei falar do que ela vendia. Fica a critério da sua imaginação. Posto  que  para mim é o que menos importa.
Então, comprei lá na loja qualquer coisa, e já indo embora, ela estava próxima a porta de entrada e saída da loja, resolvi parar em sua frente. Fingindo estar interessado em suas vendas.
Ela olhou para mim, e disse o “Pois não!” mais doce e encantador que eu  pudera ouvir. 
 - O que o senhor deseja?  Perguntou em seguida, vendo meu silêncio abestalhado.
Não me deu vontade alguma de perguntar sobre o que ela vendia. Então acabei por perguntar:
- Posso ter fazer duas perguntas?
- Pode? No que posso te ajudar? Respondeu ela.
- Quero saber teu nome primeiro? E se você vai estar aqui no mesmo lugar amanhã?
Ela olhou para mim, com um leve sorriso simpático e olhos cativantes, e disse:
- Nossa! Só isso... pensei querer saber sobre meus produtos?
Eu logo emendei:
- Só isso me basta para o que procuro!
Ela então confessou:
 - Chamo-me “Estrela” e sim estarei aqui amanhã neste mesmo lugar. Até o fim do mês, quando terei que mudar para outra loja.
Sabendo então seu nome, e tendo confirmado sua presença no dia seguinte. Despedi-me dela, pedindo desculpas por ter tomando seu tempo e não haver sequer solicitado alguma informação do que ela vendia. Seu sorriso continuou simpático até a minha partida.
O que eu fiz no dia seguinte? Fui a uma florista próxima ao local da loja e encomendei uma rosa. Mas não era uma rosa  de cor vermelha, era uma de tom rosa com branco. Achei mais apropriado.
A florista tinha, junto as flores, um conjunto de cartões, e num destes encontrei uma frase bem interessante, a qual foi minha escolha:
"A vida está cheia de desafios que, se aproveitados de forma criativa, transformam-se em oportunidades."
(Maxwell Maltz)
Junto ao cartão foi um numero de telefone. E um pedido por escrito: “Apenas uma chance para poder conhecê-la melhor...”
Pedi a florista que entregasse a encomenda no dia seguinte bem perto do final do expediente, para não atrapalhar o serviço. E assim ela fez.
Estava eu do outro lado da rua, olhando atentamente o momento em que Estrela receberia a rosa. A florista entrou na loja, procurou o balcão do qual fiz referência, e chamou-a pelo nome.
Rapidamente formou-se uma roda de quatro pessoas, todas trabalhavam com estrela. E ao verem a mesma receber o “mimo”,  protificaram-se a investigar sobre assunto. Sorrisos e falas "conjecturaram" por alguns instantes.
De longe, percebi seu lindo rosto sorrindo, admirando com delicadeza a rosa. Em seguida abriu o cartão, leu, e virou-se de costas, partindo para dentro da loja e para fora do meu campo de visão.
Até hoje espero seu telefonema! Mas ainda que ele não aconteça, valeu a intenção da rosa. (risos) 




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Desapego?


Quando a mente perde todo desejo pelos objetos
vistos ou imaginados, adquire um estado de domínio e
desprendimento que se chama vairagya,
desapego.
Aforismos de Yoga (sutra I:15)
Sim. Ainda tenho todas as cartas de amor que recebi no passado. Estão guardadas em ordem cronológica, numa caixa branca, em cima do guarda-roupa, do lado esquerdo, próximo as  colchas de cama. Pergunto-me às vezes se já não é hora de separar-me deste passado materializado em papeis e fotos. Também imagino que um dia posso eu querer contar a meus filhos como foi minha adolescência e juventude, e num determinado momento da conversa, sendo a caixa revelada trará de volta certas recordações.
Falando em recordações, é interessante como não consigo reler as cartas sem relembrar de cada momento que as fizeram existir. Às vezes até emociono-me, e decido parar. Um certo medo de ficar preso ao passado.
Algumas pessoas que abordei dizem também guardar pequenas lembranças de suas historias de amor. Outros dizem não ter porque desta ação, e já livraram-se de todas as evidências de seus romances.
Sei que há pessoas que sequer receberam ou entregaram cartas a quem fosse. Para estas, a leitura não serve. Pode parar por aqui então!
Reencontrei um amor destes do passado e ainda tenho dela todas as cartas escritas, foram três. Perguntei a ela se ainda tinha lembranças do que me  escrevera quando eram mais próximos. Ela com uma frieza incalculável, apenas sorriu ironicamente e disse:
- Hum... não lembro nem de ter escrito pra você! Nem gosto de escrever mesmo...
Acertou-me com um dardo no meio do coração! Exagero? Pode ser! Mas na hora não percebi ser uma brincadeira, fiquei sem graça, sem palavras, sem ação. Logo em seguida, vendo minha situação, ela carinhosamente retrucou:
- Lembro sim seu bobo! Mas faz tanto tempo, que não sei mais o que escrevi. E você não devia ficar guardando estas coisas... Já se foram!
Despediu-se assim com estas palavras, pegando nos braços sua filhinha de 3 anos e dirigindo-se ao marido que vinha buscá-la. Ela disse não lembrar mais do conteúdo da carta. Eu também não lembro, só relendo para retomar o que se tratava.
 Foi ai que perguntei ao meu consciente se devo ou não - devo desfazer-me delas todas. Olho para caixa, e não vejo só papel, vejo um lago de águas tranqüilas, onde borbulham as minhas ex-histórias de amor.

Marcha pela PAZ!

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